A Engenharia dos Materiais no Processo de Inovação da Arte

Publicado por Materiais Júnior em

Os materiais

Tudo o que tocamos, comemos, vemos e utilizamos é constituído de matéria, matéria essa, formada por átomos que se agrupam formando moléculas das mais variadas formas, que se agrupam gerando materiais com as mais variadas características, e são esses materiais que nós, engenheiros, buscamos entender e dominar.  Abrangendo as três grandes áreas: polímeros, metais e cerâmicas, o engenheiro de materiais desenvolve, durante a graduação, o conhecimento e as habilidades necessárias para lidar com a grande maioria dos materiais que auxiliam dentro das indústrias até o processamento de objetos do dia a dia. 

Assim, é fácil visualizar a ação de um engenheiro de materiais em objetos simples do nosso cotidiano, como nas embalagens de supermercado, nas peças de um computador ou nos azulejos que vemos no chão, entretanto, a engenharia de materiais também impacta direta e indiretamente em diversas outras áreas do conhecimento. Visto isso, observamos que o avanço no estudo e desenvolvimento de materiais gerou grandes consequências e inovações revolucionárias no meio artístico.

Para dar início ao nosso entendimento sobre a importância do desenvolvimento dos materiais para a arte, vamos começar relembrando marcos importantes da história da arte e compreender como os diferentes materiais se encaixam em cada período.

A história dos materiais na arte

Voltando milênios atrás, ainda na pré-história, temos as primeiras formas de arte das quais o ser humano tem conhecimento, as artes rupestres. Feitas nas paredes de cavernas e rochas, os humanos da época, na idade da pedra, manipulavam os materiais disponíveis, que eram basicamente matéria orgânica, para realizar suas pinturas. Utilizando de sangue de animais, excremento de aves, terra e frutos, as pessoas conseguiam expressar cenas cotidianas, dando início, assim, ao que hoje nomeamos arte.

Nicho Policrômico – Toca do Boqueirão da Pedra Furada – Serra da Capivara – PI

Continuando na linha do tempo da história, na antiguidade, os povos orientais descobriram como utilizar dos minerais para a formulação de pigmentos. Sumérios, egípcios e babilônicos utilizavam entre inúmeros minerais, o tetróxido de chumbo, óxido de manganês, calcário, e diferentes minérios misturados ao chumbo para a formulação de pigmentos de cor vermelha, preta, branco e amarelo, respectivamente. Dessa forma, dando um grande salto para a inovação das pinturas, uma vez que, agora era possível realizar desenhos com cor.

Seguindo adiante, chegamos agora à idade média oriental, que teve como principal mudança na arte o uso do vidro colorido como material artístico, mais especificamente na forma de vitrais. O vidro utilizado nos vitrais medievais era colorido pela mistura de minérios junto aos outros materiais durante a fabricação das peças, e recortados utilizando um estilete de ponta de diamante (devido à sua alta dureza). Além dos vitrais, outra técnica muito comum na idade média ocidental, em especial na Europa, era a “tempera ovo” na qual os pigmentos eram misturados com gema de ovo formando uma espécie de tinta que secava muito rápido e que era utilizada para pinturas, obrigando, dessa forma, o artista a pintar suas obras rapidamente.

Mas o universo dos materiais e suas consequências para a arte não param por aí. Já alguns séculos a frente, ainda na Europa, mas agora renascentista do século XVI, foi desenvolvida e finalmente colocada em prática a técnica da pintura à óleo, na qual os pigmentos, já triturados, eram misturados a óleos secantes e aplicados às superfícies. O diferencial dessa técnica consiste no uso do óleo que demora muito mais tempo para secar quando comparado às tintas à base de ovo do período anterior, o que possibilitou que os artistas adicionassem muito mais detalhes às suas pinturas, tornando-as obras mais complexas e demoradas para serem produzidas. Além disso, ao secar, a tinta a base de óleo forma uma película impermeável e resistente, o que facilitou o transporte das obras, e consequentemente aumentou seu comércio, transformando-as agora, em mercadorias.

Vitral medieval – artista desconhecido
Materiais: vidro e armação metálica

Mas afinal, onde entra a engenharia de materiais nessa história?

Bom, adiante na nossa linha do tempo, a revolução industrial foi outro marco que com certeza foi uma virada de chave para o mundo artístico. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e modos de produção, surgiram máquinas de moer e misturar que aceleraram o processo de fabricação das tintas, que agora passaram a ser produzidas em larga escala.

Como pudemos notar, o estudo dos materiais para aplicações artísticas acontece desde muito tempo, entretanto, é a partir do século XIX que os estudos se tornaram mais aprofundados e, desse modo, se aproximaram do que hoje em dia chamamos de engenharia dos materiais, quando profissionais passam a estudar a composição e característica dos materiais para uma melhoria de seu desempenho.

Desse modo, temos que em meados do século XIX, as primeiras versões das tintas sintéticas, finalmente saíram do papel. Sintetizadas primeiramente com base de nitocelulose, ou trinitrocelulose, – um polímero sintetizado pelo químico Christian Schönbein no ano de 1846 e primeiramente utilizado em explosivos – as tintas sintéticas foram revolucionárias para a indústria da arte pelo fato de tornarem o processo de produção mais fácil e ágil, uma vez que não utilizam de óleos naturais como base, que possuem baixo rendimento de extração.

Fórmula estrutural da nitrocelulose

Chegando finalmente aos dias atuais, da década de 1960 em diante surgiram então o que chamamos de plásticos da engenharia, que, desenvolvidos para possuírem alta performance e resistência em diversas áreas, foram também utilizados em obras de arte contemporâneas juntamente com outros materiais muitas vezes reciclados – principalmente plásticos desenvolvidos por pesquisadores de materiais como o polietileno tereftalato (PET) e o polietileno de alta densidade (PEAD) – criando então uma linha artística que não segue mais um padrão como nas vanguardas ou nas vertentes clássicas, mas que na verdade é um acúmulo de conhecimentos e inspirações que são expressos – sem restrições de formato, cor ou padrão – pelo artista utilizando de uma vasta diversidade de materiais. 

Obra “Sissy” da artista Verônica Richterová, feita com garrafas PET recicladas

Portanto, além de utilizada para melhorar e aperfeiçoar processos e objetos, observamos que a engenharia de materiais está presente em todas as áreas e em todos os lugares, melhorando e diversificando cada dia mais as nossas vidas e o mercado como um todo. E nós, da Materiais Jr. acreditamos que ser um engenheiro de materiais e estudar o mundo dos materiais, é ser capaz de mudar muito mais do que a rotina de uma empresa ou de um cliente, mas é também ser capaz de mudar vidas e perspectivas das pessoas em relação ao mundo, seja por meio direto com nossos serviços ou por outros meios indiretos, como a arte, que devido às mudanças em seus materiais de fabricação, passou, e continua passando, por inovações que ainda hoje alteram a história e nossa visão sobre o mundo todos os dias.


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