O que são Cerâmicas Balísticas?

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“Em comparação aos metais, as cerâmicas apresentam grandes vantagens em termos da redução de peso, o que aprimora desde a eficiência de consumo à capacidade de transporte de equipamentos, além de proporcionar uma melhor proteção.” 

 

 

As Cerâmicas Balísticas são materiais de alta tecnologia, projetadas para proteger vidas e veículos em situações extremas. Sua capacidade de dissipação de energia é uma característica fundamental que as torna tão eficazes. Quando um projétil impacta uma placa de cerâmica balística, uma série de mecanismos de dissipação entram em ação. A cerâmica fratura de maneira controlada, absorvendo uma grande quantidade de energia ao quebrar-se em pequenos fragmentos. Além disso, a onda de compressão resultante do impacto cria microfissuras que consomem ainda mais energia, enquanto o desvio do projétil altera sua trajetória, reduzindo a eficiência do impacto. Esses materiais de alta resistência, como alumina, carbeto de silício, carbeto de boro e nitreto de boro cúbico, são frequentemente combinados com fibras de reforço, como aramida ou polietileno, que ajudam a capturar os fragmentos e a distribuir a energia de forma eficaz. O resultado é uma proteção excepcional com peso relativamente baixo, tornando essas cerâmicas indispensáveis em aplicações de segurança pessoal e militar.

 

SILVA, M. V. da; STAINER, D.; AL-QURESHI, H.; D. Hotza. A. Blindagens cerâmicas para aplicações balísticas: uma revisão. CMC, CERMAT, PGMAT, UFSC. Cerâmica 60 (2014) 323-331.

 

Do que são feitas?

 

Aos principais materiais cerâmicos usados em blindagens balísticas:  a alumina (Al2O3), o carbeto de silício (SiC) e o carbeto de boro (B4C). Cada um desses materiais possui características específicas que os tornam adequados para diferentes aplicações. A alumina, por exemplo, é valorizada pela sua alta dureza e custo-benefício, no entanto, sua densidade relativamente alta limita seu uso em aplicações onde o peso é um fator crítico. Já o carbeto de boro (B4C) é notável por ser um dos materiais mais duros conhecidos, perdendo apenas para o diamante, e é amplamente utilizado em coletes à prova de balas e veículos blindados por sua eficiência em dissipar a energia de projéteis de alta velocidade. Da mesma forma, o carbeto de silício (SiC) é reconhecido por sua alta resistência ao impacto e capacidade de suportar temperaturas extremas, sendo frequentemente usado em blindagens de veículos militares e aeronaves. A alúmina (Al2O3), apesar de ser menos dura que o B4C e o SiC, é valorizada por sua excelente relação custo-benefício e sua ampla disponibilidade, tornando-se uma escolha comum em blindagens para proteção pessoal e arquitetônica. Esses exemplos ilustram como a combinação de alta dureza, resistência ao impacto e baixa densidade faz das cerâmicas materiais excepcionais para proteção balística, oferecendo uma defesa eficaz contra uma ampla gama de ameaças balísticas.

 

Qual a importância do seu processamento?

O processamento das cerâmicas balísticas é fundamental na definição das propriedades finais, como resistência, dureza e capacidade de dissipação de energia. A jornada para criar esses materiais começa na escolha dos componentes, onde a pureza dos constituintes, como alumina, carbeto de silício e carbeto de boro, está diretamente ligada à qualidade final do produto.

A preparação da mistura, onde o tamanho das partículas e a uniformidade são os principais parâmetros. Partículas finas e uniformes promovem uma densificação otimizada, enquanto uma distribuição irregular pode resultar em poros que enfraquecem a estrutura final. A etapa de conformação, seja por prensagem a seco, prensagem isostática ou moldagem por injeção, é igualmente importante. Definindo a uniformidade e densidade inicial do corpo verde, uma vez que a porosidade residual introduz defeitos estruturais indesejados. Já o processo de sinterização  é determinante, envolvendo o aquecimento do material a altas temperaturas para coalescer e consolidar sua estrutura. Aqui a taxa de aquecimento, a temperatura máxima e o tempo de permanência são cuidadosamente controlados para obter uma microestrutura fina e uniforme. No entanto, temperaturas excessivamente altas ou tempos prolongados podem provocar um crescimento exagerado dos grãos, o que comprometeria a resistência e a capacidade de dissipação de energia da cerâmica.

 

 

Após a sinterização, tratamentos adicionais, como tratamentos térmicos ou revestimentos superficiais, podem ser aplicados para melhorar características específicas, como resistência ao desgaste ou à fratura. Avanços recentes, como o desenvolvimento de cerâmicas ligadas por reação, têm mostrado promessas na combinação de dureza e tenacidade, melhorando ainda mais a capacidade de suportar impactos de alta energia.

 

Blindagens Mistas e Desafios Futuros

As blindagens mistas combinam camadas de materiais cerâmicos e metálicos ou poliméricos para aproveitar as propriedades complementares de cada componente. A camada cerâmica, geralmente a primeira a ser impactada, desgasta a ponta do projétil e dissipa parte da energia. A camada de base, composta por materiais dúcteis como metais ou polímeros, absorve a energia cinética residual, prevenindo a penetração do projétil ou de fragmentos. Os desafios futuros no desenvolvimento de cerâmicas balísticas incluem a redução de custos, o aumento da previsibilidade de desempenho e a melhoria das técnicas de processamento para otimizar a resistência e a tenacidade dos materiais​

 

O papel que a seleção de materiais desempenha em seu desenvolvimento

A escolha adequada dos materiais é essencial para garantir que a blindagem seja capaz de resistir e dissipar a energia dos projéteis de forma eficaz.  Desta forma, a densidade é uma das principais variáveis, afetando diretamente o peso total da proteção, fator fundamental em aplicações móveis, como transportes militares e proteções de uso pessoal .A redução de peso sem comprometer a proteção é um dos principais objetivos na seleção de materiais para cerâmicas balísticas. A compatibilidade dos materiais também é um fator determinante, especialmente em sistemas de blindagem mista que combinam cerâmicas com metais ou polímeros. A interface entre diferentes materiais deve ser cuidadosamente projetada para evitar problemas como delaminação ou incompatibilidade térmica, que podem comprometer a integridade e a eficácia da proteção balística. A escolha de materiais que se complementam em termos de propriedades mecânicas e térmicas é essencial para criar uma proteção eficaz e durável. Além das propriedades técnicas, o custo e a disponibilidade dos materiais são considerações práticas importantes na seleção.  


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